07 dezembro 2007

John Wesley e a louça do Escobar



A pia engordurada servia de plataforma de onde se erigia a pilha de louça suja. Queria fugir, mas não dava, havia chegado o meu turno. Para minha surpresa, um senhor chegou ao meu lado e ofereceu-se para enfrentar essa batalha comigo. Era Samuel Escobar.

Já se vão 15 anos desse encontro. Eu, um imberbe (tudo bem, sigo assim…) candidato a engenheiro em seu último ano na universidade. Ao meu lado, o Samuel, esse renomado teólogo peruano, que por anos têm nos ajudado a abraçar o evangelho de maneira integral.

A hostil louça se transformou em uma longa e prazerosa tarefa enquanto viajávamos pelo tema principal de nossa conversa: a vida e a obra de John Wesley.

Eu vinha com a minha empolgação juvenil de quem havia lido na adolescência os diários e os sermões de Wesley. Fui motivado pela pura curiosidade de conhecer aquele que foi inspiração para um sonho que minha mãe teve na noite de meu nascimento, e que levou meus pais a incluírem Wesley em meu nome. Do outro lado, Escobar aportava com sua bem embasada reflexão acadêmica, lastreada por sua vasta experiência no campo da teologia da missão.

Entre uma panela vencida e a próxima, Escobar irrompeu com algo que não me esqueci em todos esses anos: “Em um contexto como o nosso, na América Latina, precisamos muito estudar o que aconteceu no avivamento que houve na Inglaterra do século XVIII, com os irmãos Wesley. Talvez esse seja o modelo na história da igreja com as lições mais preciosas para nosso contexto latino-americano. Precisamos fazer pontes com o que aconteceu ‘lá e então’ com o que vivemos hoje, nos desafios para a missão em nossa realidade.”

Aquilo foi um sopro de ânimo para que eu voltasse a refletir sobre aquelee momento da história da igreja cristã. Ao longo dos anos após aquela conversa, engendrei uma busca por livros que narrassem aqueles acontecimentos e outros que buscassem refletir e articular as lições acerca daquele movimento.

Confesso que encontrei material de todo tipo. Biografias que endeusavam o homem, e outras que o caracterizavam como um apóstata e herege. Mas também vi material equilibrado, mais honesto e humano acerca da pessoa de Wesley e daquele momento da história.

Acredito que o livro de Stephen Tomkins, “John Wesley, A Biography”, esteja nessa última categoria. Ele apresenta Wesley como uma figura vívida, especial, mas também bastante humano e polêmico.

Recomendo-a como uma leitura bem interessante e acessível para se aproximar dessa figura e do que aconteceu na história da Inglaterra naquele período.

As lições podem ser distintas, as opiniões também, mas não há como ficar indiferente a um personagem radical como Wesley ou a um movimento que levou o evangelho para fora das portas dos templos, que teve um forte ardor missionário, que juntou a mística do poder do Espírito com um profundo engajamento social, que valorizou o ministério dos leigos e das mulheres, que produziu uma hinologia que influenciou geração após geração e que provocou transformações profundas nas pessoas e nas sociedades em ondas de impacto sentidas ainda hoje.

Diversos grupos cristãos que conhecemos reconhecem sua identidade e suas raízes a partir do que aconteceu naqueles dias. Na verdade, muitos se identificam com essa herança sem conhecer de perto e com intimidade o que aconteceu na história do chamado avivamento metodista. O livro de Tomkins é bem-vindo para ajudar a suprir essa lacuna. Espero que logo apareça uma edição em Português!

Foto: © Hanna Leppänen -
Dirty dishes
Upload feito originalmente por m0nni

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ricardo. Chamo-me Pedro Grabois.
Vi o seu comentário no Blog do Fale, perguntando sobre o debate sobre reforma agrária.
Bom, o debate aconteceu lá na minha igreja, foi um momento muito bacana de aprendizado para todos. O palestrante convidado, um geógrafo conhecido meu trouxe tabém um vídeo interessantíssimo sobre agricultura ecológica no MST.

é isso,
espero que as coisas aí no Uruguai estejam caminhando bem.
Um grande Abraço,
PEdro.

acesse http://justicaintegral.blogspot.com

Unknown disse...

Olá Pedro,
Obrigado e um forte abraço na turma da Itacuruçá, em especial na Rute Silveira, Israel, Nancy...
É onde você está, certo?
Abraço,
Ricardo

Anônimo disse...

Ola Ricardo Wesley, estou estudando um pouco sobre a vida de John Wesley e sobre seu Pai, Samuel Wesley, sou de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Em pesquisas feitas pela internet e livros não achei muito da história de seu pai, e tenho um questão para resolver, sobre John e seu Pai, preciso saber qual envolvimente eles tiveram com o mundo 'loiro', e o que o esta expresão significa na religião de John Wesley. E quais foram as heranças que John recebeu após a morete de seu pai, e se teve algum episidio importante de sua vida durante esta fase (a morte de Samuel Wesley). Se poder me ajudar ficarei muito grato.

Unknown disse...

Olá meu caro de BH,
A pergunta sobre o "mundo loiro" eu não a entendi. Vi uma pergunta parecida no Yahoo, em que aparece uma frase sobre outono frio, e o pai de John Wesley ter concebido algo depois de ter terminado seus negócios com o tal "mundo loiro". Olha, seria bom saber de onde saiu isso, ver o contexto, mas suspeito que se trata de um erro de tradução.
Um abraço!