(Pacto de Lausanne – Parte 3)*
O vento frio de outono preenchia o pátio externo com as folhas acobreadas que pareciam vir de todo lugar. O curso sobre estudos latino-americanos estava para começar. Graduados em diversas áreas, vindos do mundo todo, reuniam-se para estudar teologia, procurando um melhor preparo para o trabalho missionário a ser realizado nos mais variados contextos.
Éramos os únicos brasileiros entre estudantes de 34 países diferentes. Além da minha esposa, Ruth, e de mim, havia apenas uns poucos representantes de outros países latino-americanos, como a amiga de Porto Rico (“latino, pero no mucho”), e a outra de Trinidad e Tobago (não exatamente um país latino).
Então, nas discussões que buscavam uma melhor compreensão de nosso estimado continente, invariavelmente os olhares se voltavam para nós, na expectativa de ouvir nossa humilde opinião. No começo, emitíamos nossas idéias ainda um pouco tímidos. Depois, aos poucos, íamos nos soltando.
Nossas contribuições e comentários, temperados com uma preocupação acerca dos inúmeros problemas sociais que enfrentamos em nossa realidade, costumavam adquirir aquela exaltação típica de um sangue latino. Daí não tardou a pergunta de alguns colegas, que nos deixou um pouco surpresos: “vocês se guiam pela teologia da libertação, não é mesmo!?”.
Estávamos nessa época desfrutando de um precioso tempo de estudos nessa faculdade que aponta para a diversidade em seu próprio nome, All Nations Christian College, na Inglaterra.
Depois de alguns anos envolvidos no ministério estudantil, Ruth e eu nos animamos muito com a possibilidade de estudar a Bíblia e refletir sobre a nossa missão de uma maneira sistematizada e com boa orientação. E creio que foi isso que obtivemos durante esse tempo. Era lá que travávamos esses debates a respeito da missão da igreja.
Aos poucos, fomos percebendo que havia alguns colegas de outros países que identificavam em nossos posicionamentos idéias associadas à teologia da libertação.
Nesses momentos em que éramos identificados com essa corrente teológica, tínhamos que confessar que na verdade pouco havíamos lido acerca dessa abordagem. Buscávamos então explicar nosso olhar e posicionamentos. Na busca de um referencial conhecido mundialmente, dizíamos algo assim, “Já ouviu falar do Pacto de Lausanne?”.
Um pouco mais de vinte anos após esse documento ter sido escrito, estávamos nós, terceiro-mundistas em um país do primeiro mundo, tentando nos identificar com as crenças e ênfases colocadas naquele documento. Em especial, identificando-nos com a declaração do pacto que diz que evangelização e ação social “são ambos parte de nosso dever cristão” (Parágrafo 5).
Como é que uma declaração escrita há mais de 30 anos, após um congresso realizado em uma confortável cidade na Suíça, pode produzir uma agenda importante de reflexão e ação quanto à responsabilidade social da igreja?
De que maneira as ênfases quanto à necessidade de uma teologia de missão mais integral moldaram o evento e o pacto produzido? E de que maneira esse Pacto de Lausanne, desconhecido de tantos em nossa igreja evangélica brasileira, pode ser apontado como uma referência importante para nossa pauta de reflexão e ação? Vamos tentar refletir brevemente sobre essas questões.
(Continua...)
* parte 3 da reprodução do prefácio que escrevi para a série Lausanne 30 anos, volume 1, John Stott comenta o pacto de Lausanne, ABU e Visão Mundial, 2003.
Foto: © on my way to nowhere
Upload feito originalmente por desertgirl
4 comentários:
Eu quero estudar o teologia e ao trasmitir uma visão integral.
Lei o pacto de Lausana
eu gostei de quando faz exame da responsabilidade da igreja.
Eu espero falar (algún día) o portuguez e bom com o dae do Deus que eu o farei
cumprimientos!!
Muy bien, Ivonne,
Veo que estás haciendo un lindo esfuerzo en leer y escribir en portugués!
Abrazo fuerte a ti y a la gente del GBUCh!
Irmão, obrigado por sua contribuição no blog, acompanhei algumas postagens suas e achei muito bom porque fala sobre algo que tenho desejado viver: Missão integral, assistência social... desejando ver o ser humano restaurado em todos os sentidos e expressando a verdadeira fé em todos os sentidos (Tg.). Estou feliz por aprender muito com aquilo que você coloca no blog, e por isso coloquei como link no pilgrimage. Deus abençoe, e obrigado denovo!
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...Diogo A.P.
Beleza, Diogo,
Fico feliz que as reflexões estejam sendo proveitosas.
Você escreve de Santa Catarina, certo?
Abraço forte!
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