16 janeiro 2009

Retrospectiva 2008: os melhores livros


Seguindo no assunto de livros, aproveito para fazer aqui uma lista do que foram as melhores leituras de 2008.

Greenspan
Alan Greenspan, Wall Street y la economia mundial
Bob Woodward
Uma interessante biografia que por acaso caiu em minhas mãos (oferta de livraria de bairro) pouco antes que a crise financeira ficasse mais evidente, no segundo semestre do ano. Foi quase divertido ler a advertência de Greenspan para que o mercado não interviesse no crash de 1987, porque segundo ele tal intervenção faria com que todo o sistema tomasse rumos imprevisíveis. O que dizer agora sobre o que pode acontecer com a gigantesca intervenção na economia de tantos governos, inclusive (e talvez principalmente) dos EUA?
(versões em Português e em Inglês)

Estados Fallidos
El abuso del poder y el ataque a la democracia
Noam Chomsky
Polêmico, bombástico, revelador, um profeta incômodo. Pode-se não concordar com tudo, mas difícil ficar indiferente. Uma leitura necessária para tentar entender o mundo em que vivemos.
( versão em Inglês)

Amor líquido
Acerca de la fragilidad de los vínculos humanos
Zygmunt Bauman
Comentei algo aqui sobre sua leitura. Não é fácil encontrar alguém hoje que expresse melhor o abismo de nossas angústias, sem ser totalmente pessimista. Há esperança nos escritos de Bauman, e é isso (entre outras coisas) que me levará a ler outras obras dele.
(versão em Inglês e em Português)

Las Viudas Rojas
Esteban Valenti
Escrita por um italiano radicado em Montevidéu já há algumas décadas, essa ficção te agarra e te leva por um divertido passeio de espionagem, intriga e humor, por entre os dilemas de uma geração que ficou no meio do caminho, abandonada pelo decreto do fim da utopia do socialismo real.

La Brújula Dorada
Philip Pullman
Já resenhei aqui e apenas acrescento o seguinte: para quem gosta do gênero, é muito melhor escrito e muito mais provocador do que Harry Potter. Ainda estou em dívida com as sequências: “La Daga” e “El Catalejo Lacado”.
(versões em Inglês e em Português)

Exploring Protestant Traditions
An invitation to theological hospitality
W. David Buschart
Não sei recomendar um livro melhor que esse para poder entender, sem estereótipos simplistas ou julgamentos rápidos, as diferentes tradições protestantes. É um daqueles livros indispensáveis para quem trabalha em ministérios interdenominacionais.

C. Stacey Woods and the Evangelical Rediscovery of the University
A. Donald MacLeod
Foi o mais sublinhado e rabiscado do ano! O melhor livro que já tive em mãos para entender a fundo a história da IFES (era esse o propósito?), em especial nos relatos das “entrelinhas”, em um fabuloso e bem honesto trabalho levado a cabo por esse excelente professor de história. Quando uma vez eu tive o privilégio de ser levado pelo Donald a um aeroporto, infelizmente eu ainda não tinha lido o livro. Uma pena, pois um pneu furado ou um vôo perdido abririam a chance de muitas perguntas e creio que uma frutífera conversa sobre seus escritos.

The Message of Samuel
Mary J. Evans
Essa excelente, profunda, mas acessível exposição do texto me fez desejar uma coisa. Se um dia Deus me chamar a escrever algo, depois de uma séria investigação bíblica, gostaria de escrever como a Mary.

Para 2009, tenho minha lista de pendências de leituras. Mas ela pode ser enriquecida com suas sugestões. Antecipadamente, agradeço.

Foto: © (07-11-24) 2:32
Upload feito originalmente por Shefaet

05 janeiro 2009

O livro do ano



A história me interessava já há um tempo. Creio que o interesse cresceu depois de haver conhecido a Roberto Canessa, o médico cardiologista infantil que realizou a façanha, junto a seu amigo Nando Parrado, da expedição final que levou 10 dias para escapar da tumba dos Andes.

Ganhei o livro “La Sociedad de La Nieve”, recém-publicado, em que pela primeira vez aparece o testemunho de todos os 16 sobreviventes, 36 anos depois do acidente, entremeados com o emocionante relato dos acontecimentos, feito pelo escritor e jornalista Pablo Vierci. Pablo, o narrador, também foi um amigo de infância dos protagonistas do livro.

E de amizades parece falar esse livro que me transbordou. De certo modo, isso parece uma ironia e um paradoxo. As reações mais comuns, como as que sucederam em especial nos momentos logo após o resgate, parecem ser as de assombro pelo fato de que sobreviveram por haverem comido os corpos de seus companheiros que não resistiram à tragédia.

Mas de alguma maneira, os vínculos que se criaram entre eles, inclusive com a memória dos amigos e com alguns parentes dos falecidos, foi o que mais impacto me causou. Lá em cima, em meio à desesperança, sofrimento e morte, brotavam os sentimentos e, principalmente, as atitudes mais sublimes de cuidado com o mais frágil, de sacrifício e de doação.

Terminei de ler o livro hoje, lembrando-me do saudoso Dr. Ross Alan Douglas, pioneiro da ABU no Brasil e dono da mais vasta biblioteca pessoal que já conheci. Em meio a uma daquelas reuniões de diretoria que já começavam a entediar-lo, ele abria um livro e começava a folhear-lo sem cerimônias.

Os outros 9 ou 10 presentes faziam que nem notavam e respeitavam a “liberdade acadêmica” de nosso saudoso mestre. Numa dessas ocasiões, ainda em meio a uma discussão orçamentária, ele com prazer a ignorou e mostrou-me um interessante livro que lia sobre epistemologia, ciência e fé.

Já que tinha o aval do doutor, embarquei na conversa e em algum momento lhe perguntei se já havia terminado de ler o livro. Ele me fitou debaixo de suas grossas lentes, confessou que raras vezes lia um livro até seu final e tremeu seu corpanzil em uma gostosa risada.

Entre decepcionado e cético com o mito que eu havia construído, ouvia então sua convincente explicação de que poucos livros mereciam ser lidos por inteiro.

Ironicamente comecei a ler o “La Sociedad de La Nieve” em uma viagem de avião. Nas sete horas que separam Montevidéu do Panamá, fui algumas vezes obrigado a interromper a leitura. Lágrimas insistentes não me permitiam seguir. Na verdade, não sabia bem o porquê de minha reação.

Só agora, chegando à última página desse fabuloso relato, venho a entender melhor o que eu processava. Isso se deu quando cheguei, no final do livro, ao registro de uma reunião na casa de Canessa, essa que tive o privilégio de conhecer. E aqui me reservo a não dar mais detalhes. Se você se animar, leia. Pode ser que siga sem me entender. Tudo bem. Talvez essa seja uma cordilheira que você mesmo terá que atravessar, do seu jeito, e se você quiser.

Obrigado, caro Dr. Douglas. Esse é um daqueles livros, com certeza.


Foto: © Realtà Sottili
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BeneToZi