22 dezembro 2007

Café, crise e conversão



(Pacto de Lausanne – Parte 2)*

O suor escorria da testa de Joaquim, enquanto ele espalhava o café no terreiro. Eram os idos da década de 30 em uma fazenda no interior de São Paulo, no distrito de Baguaçu, próximo a Olímpia.

Joaquim lutava para sustentar sua mulher e cinco filhos em meio à crise do café. Já havia perdido parte de sua fazenda para um belicoso vizinho que agora cobiçava o restante de suas terras.

Certo dia, surpreendido em uma tocaia, atira de volta com sua velha garrucha. Ao reagir contra aquele que tramava tirar a sua vida, alveja-o de forma que o deixa com sérias seqüelas.

Seu vizinho agora mancava, mas ainda era esperto o suficiente para mover uma ação na justiça contra ele por perdas e danos. Joaquim, em sucessivas derrotas na justiça, vai perdendo aos poucos a terra que lhe restava.

Rastelava o café quando, ao ouvir a notícia da sentença que o obrigava a um pagamento adicional de cinco contos de réis, cambaleia, sofre um ataque cardíaco e morre.

Eulália se vê subitamente viúva, com cinco filhos para criar e grávida do sexto. Sem terra ou outros recursos, vê diante de si um futuro incerto e sombrio.

Nessa época, um pouco distante dali, na estrada para Atibaia, Aclíneo dirige agoniado o automóvel de praça alugado com um propósito: encontrar-se com sua esposa Benedita a fim de enterrar sua filhinha, que não resistiu à pneumonia asmática.

Ela havia viajado com sua mãe, que por sua vez tinha ido tratar sua bronquite asmática naquela estância climática. Ao chegar à pequena casa alugada para o tratamento de saúde, já tarde da noite, surpreende-se ao vê-la cheia.

Pergunta a Benedita quem são aquelas pessoas, ao que ela responde ‘são os crentes’. Integrantes da igreja presbiteriana local a haviam ajudado, mesmo sem conhecê-la, com comida, remédios e amizade. Agora, os acolhiam no luto, os apoiavam nas providências a serem tomadas e no afeto que tanto precisavam.

A maneira como esses crentes os tratam e os amparam em suas necessidades físicas e espirituais o comove. Após o enterro, no dia seguinte, antes de voltar para a região de Olímpia, resolve ir à igreja daquele ‘povo diferente’. Ouve o evangelho, e logo decide ser batizado. O pastor, no entanto, recomenda-o que o melhor seria voltar para sua cidade, procurar uma igreja evangélica e participar de uma classe de preparação para o batismo.

Ao dirigir de volta, essa idéia não lhe sai da cabeça. Fica pensando em Eulália, sua cunhada, e em como ela precisava saber desses crentes e do evangelho que pregavam e viviam. Ao chegar, corre para encontrar-se logo com Eulália, sabendo como ela estava ansiosa acerca do futuro de seus, agora, seis filhos.

Procuram então uma igreja metodista na cidade, recomendada pelo pastor presbiteriano de Atibaia, onde a família é recebida para além das expectativas que pudessem ter.

Essa igreja não os trata de uma maneira meramente assistencialista. Seus membros lhes comunicam um evangelho de perdão, de vida e de resgate da dignidade. Resolvem lhes pagar um aluguel por 3 meses, pelo menos até que pudessem se estabilizar. O barbeiro da igreja assume os cuidados com os cabelos da prole. O dentista crente dá um trato geral na boca de cada um. E assim por diante.

Oferecem ajuda para que seus filhos mais velhos encontrem emprego e logo a família segue o seu rumo de reconstrução, com o diferencial de agora conhecerem de fato acerca do amor redentor e transformador de Deus. Eulália volta-se para o Senhor e decide educar seus filhos nesse evangelho que a alcança em todas as suas necessidades.

Foi com Eulália que o evangelho alcançou minha família. Era a mãe de meu pai, o sexto que ainda não havia nascido, quando Joaquim se foi. Ainda tive o privilégio de conhecê-la, com seu jeito simples e sua devoção apaixonada ao Senhor. Com certeza, marcada pela maneira com que o evangelho chegou até ela de maneira integral e redentora.

Não havia Pacto de Lausanne àquela época, mas havia o evangelho que inspirou o Pacto. E também havia a influência de outros movimentos da igreja de Cristo que, ao longo da história, procuraram não fazer uma dicotomia entre a evangelização e a ação social consciente e transformadora, como ocorreu com o movimento wesleyano na Inglaterra do século XVIII.

Mas por que então poderia ser importante esse resgate, de tempos em tempos, como Lausanne procurou fazer, da integralidade da mensagem e da agenda do evangelho? Passo então a uma segunda história para procurar ilustrar esse ponto.

(Continua...)

* parte 2 da reprodução do prefácio que escrevi para a
série Lausanne 30 anos, volume 1, John Stott comenta o pacto de Lausanne, ABU e Visão Mundial, 2003.

Foto: © Cristiane Sousa
¦Grandmother¦ Vovó Mina
Upload feito originalmente por Cristiane Sousa

2 comentários:

hapuc disse...

haré un esfuerzo por leerlo...

no sé si te acuerdas de mí... soy Ivonne cuando me conociste fuí estudiante, ahora soy Bibliotecaria y una mujer de Dios (buenos eso intento)...

te leere más adelante....

te vi en el blog de gustavo...

Dios te bendiga

hapuc disse...

soy de Chilejxjmqys

http://bibliotecarevolucionaria.blogspot.com