08 novembro 2007

Parabéns, do Mario

Foi um encontro inesperado. Justo naquele dia em que celebro a certeza dos anos que já passaram e o incerto dos que virão.

Ele moveu-se ligeiro da esquina da estante direto ao sofá da sala. Resolvi papear. Na verdade, mais ouvir do que falar.

Em uma tacada ele me disse, “Feliz Aniversário”. Levantei os olhos incrédulo. Como ele sabia?

Mario é desses personagens controversos e apaixonantes. Criticado por seus vínculos com a esquerda radical (qual esquerda de verdade não o é, para o bem e para o mal?), sempre foi habilidoso como poucos, bem poucos, com a pena na mão. Digo “pena”, confesso a malvadez, por causa de seu longo percurso.

Quatro anos depois que a I Guerra Mundial acabara (não faça as contas, que é deselegante, o Mario pode se chatear) nascia o homem em Paso de los Toros, Uruguai. Lido e apreciado pela juventude de numerosos rincões. Viveu 60 anos com o amor de sua vida, Luz López Alegre, que partiu não faz muito. Não quero parecer desrespeitoso, mas como poderiam ser infelizes no matrimônio com esse nome?

Deixemos atrás o devanear e voltemos à sala, cenário do colóquio. O Mario, ao me felicitar, foi desusado e me falou da morte. Logo hoje? Narrou-me seus dilemas, angústias, suas indagações sem resposta.

Ao fim, depois daquela pausa que os poetas sabem fazer (às vezes eu tento arremedar, mas fica apenas parecendo que observo a sujeira da parede, que cochilei ou engasguei…), concluiu que ao menos sente algum consolo em seguir perguntando.

Eu me calei. Razão simples. Se eu não conseguir ouvir as perguntas que ele me faz (boas questões formula o tipo) nunca poderei ambicionar qualquer resposta.

Sabe dar bom presentes esse Mario. Veja o que ele me regalou.

Happy Birthday

¿Cómo será el mundo cuando no pueda yo mirarlo
ni escucharlo ni tocarlo ni olerlo ni gustarlo?
¿cómo serán los demás sin este servidor?
¿o existirán tal como yo existo
sin los demás que se me fueron?
sin embargo
¿por qué algunos de éstos son una foto en sepia
y otros una nube en los ojos
y otros la mano de mi brazo?
¿cómo seremos todos sin nosotros?
¿qué color qué ruidos qué piel suave qué sabor
qué aroma
tendrá el ben(mal)dito mundo?
¿qué sentido tendrá llegar a ser protagonista del
silencio?
¿vanguardia del olvido?
¿qué será del amor y el sol de las once
y el crepúsculo triste sin causa valedera?
¿o acaso estas preguntas son las mismas
cada vez que alguien llegue a los sesenta?

ya sabemos cómo es sin las respuestas
mas ¿cómo será el mundo sin las preguntas?

Happy Birthday em Inventario Uno, Editorial Sudamericana, © 1995 Mario Benedetti
Agarrei o livro do Mario e me deparei súbito com esse poema, logo quando celebrava meu natalício.

(Foto: do Mario, claro - © Copyright 1996-2000 Clarin.com)

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