04 março 2008

"Por que teu fusca é verde?"



(Série Entrevistas – II)

Descobri mais entrevistas aqui no baú. A que aqui reproduzo1 foi dada a um repórter da Enfoque Gospel por ocasião do 2º Congresso Brasileiro de Evangelização, novembro de 2003, em Belo Horizonte.

Encontrei outras, como as em que tentei dar explicações sobre a "orientação doutrinária e pentecostal" da ABU, ou responder se ela se associava a “grupos comunistas de diversas correntes...”. Teve também aquela, mas essa foi divertida, em que tive que oferecer uma resposta à profunda questão existencial “por que teu fusca é verde?”. Mas anuncio que o imenso público leitor desse blog será poupado dessas.

Assim, como não convém seguir falando de si mesmo (veja Livros, blogs e o fim do mundo), prometo encerrar a série “Entrevistas” com um relato que vem do outro lado do Atlântico, através de uma entrevista que fiz com meu amigo queniano Duncan Olumbe. Até a próxima!


EG - Quais foram os maiores avanços e os maiores recuos da igreja evangélica brasileira?

A igreja evangélica cresceu, aumentou sua visibilidade e, de certa forma, o evangelho tem chegado a mais pessoas. O problema se dá muitas vezes com o tipo de evangelho que vivemos e pregamos. A tentação de distorcer esse evangelho para se adequar às regras do mercado da adesão religiosa pode ser grande. Por outro lado, o crescimento abre oportunidades não vistas antes. Essas portas abertas precisam ser bem aproveitadas, levando em conta sempre a necessidade de fidelidade ao evangelho das Escrituras e a sensibilidade que precisamos ter para uma adequada inserção e comunicação com a geração de nosso tempo.

EG - O que mais preocupa no atual quadro da igreja evangélica?

Talvez seja a pergunta acerca de quem são os evangélicos hoje. Nossa identidade é fragmentada, confusa. Tanto a percepção acerca do que cremos como a imagem pública que projetamos na sociedade. Ser evangélico hoje significa muita coisa diferente, desde a pregadora judaizante até a artista libertina da televisão. Isso deve dar um nó na cabeça das pessoas. Precisamos redescobrir nossa identidade. Mas em meio à nossa fragmentação e desunião, isso não parece ser uma tarefa simples.

EG - O que demonstra a expansão do público evangélico no país? Isso é qualitativo ou só quantitativo?

Não dá para dizer que é só quantitativo. A igreja evangélica que sobe nas favelas e que faz diferença nesse meio é algo fantástico. Precisamos aprender muito acerca de novas iniciativas de missão em nosso meio, como esses casos das favelas, dos ministérios entre os excluídos e marginalizados, das pequenas igrejas se multiplicando no meio do sertão. São fenômenos que acontecem distantes do crescimento de grandes igrejas nos centros urbanos, essas que costumam atrair uma juventude ávida por novidades. Há crescimento para todos os gostos. Mas ainda que seja crítico, não posso ser negativo acerca da possibilidade da ação de Deus em nosso meio.

EG - Quais são as novas metas que a igreja precisa alcançar?

Seguindo na linha da pergunta anterior, precisamos de qualidade (evangelho bíblico sendo pregado e bem entendido) juntamente com a saudável preocupação da quantidade (é claro que desejo que o maior número de pessoas seja alcançado com o evangelho de Cristo). Precisamos conhecer melhor a realidade diversa de nosso país, e viver um evangelho que possa produzir mudança nas pessoas, nas leis, nas estruturas, em toda a sociedade. O evangelho que nos foi confiado não é para um gueto. É para a transformação de um país, e para o envio de missionários servos para muitas nações desse mundo. Devemos assumir essa responsabilidade, e trabalhar mais para que isso aconteça.

EG - Como secretário geral2 da ABUB, qual é sua visão diante da preocupação da igreja em investir na pregação para os jovens e na preparação de jovens que façam a diferença?

Precisamos saber melhor preparar nossa juventude para uma vida de serviço e missão, onde quer que o Senhor nos colocar e nos enviar. Precisamos ir na contra-mão de uma superficialidade individualista e consumista que bombardeia a cabeça do jovem de hoje. Creio que o nosso papel não é tanto o de criarmos redes para proteger nossos jovens dos perigos do mundo. Precisamos prepará-los e discipulá-los para que assumam seu papel como testemunhas de Cristo, que saibam se conectar com a geração de seu tempo, e que desenvolvam uma fé madura em meio às lutas e percalços da missão a que são chamados.

EG - Um grande número de jovens se afasta da igreja alegando não haver programações interessantes. Isso é uma realidade da igreja evangélica? Como superar isso?

Não creio que o nosso desafio seja o de produzir programações interessantes. Precisamos do evangelho de Jesus, e que ele seja comunicado de maneira inteligível a essa geração. Se a proclamação do evangelho for criativa, viva, com a utilização de dons variados, ótimo. Mas o foco não deve ser o "como posso atrair mais jovens", e sim como eu tiro os obstáculos desnecessários para que a Palavra de Deus mais uma vez mostre o seu poder de atração e de transformação na vida dos jovens de hoje. Esse continua sendo um tremendo desafio para a igreja.

1 Mike era o nome do simpático repórter. Nunca soube se ela foi ou não publicada. Por não saber, suspeito que não. Tudo bem, ao conhecer o "editor" desse blog aqui, torno a coisa pública. Assim, vocês podem dar razão ao editor da revista :-)

2 O atual secretário geral da ABUB é Reinaldo Percinoto Jr., um merecido upgrade.

Foto: ©
Volks
Upload feito originalmente por TantoFaz

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