Wilberforce, então um jovem membro do parlamento inglês, converteu-se através da pregação de John Newton. Esse, antes de se tornar pastor e autor do famoso hino que leva o nome desse filme (“Maravilhosa Graça”) após uma dramática conversão, havia dedicado boa parte de sua vida ao vil comércio de escravos.
Newton era um admirador de John Wesley, aquele que liderou um avivamento espiritual com profundas marcas de inovação e engajamento social na Inglaterra da época. Foi Wesley quem, aos 87 anos de vida, escreveu ao jovem de 31 William Wilberforce o que seria a última carta de sua vida.
Ela ficou lavrada no diário de Wesley, no dia 23 de fevereiro de 1791, pouco antes de sua morte. Ele tinha acabado de ler um livro ("Gustavus Vasa") sobre um antigo escravo de Barbados. Inspirou-se então a escrever uma palavra de encorajamento ao jovem recém-convertido William, que nesse momento estava tentado a abandonar a vida pública em troca de uma vida mais contemplativa (Mt. 17:4). Wesley o exortou assim:
“Caro senhor, a não ser que o poder divino o tenha alçado para ser um Atanásio contra mundum, não posso ver como poderá terminar Sua gloriosa empresa, opondo-se àquela execrável vilania, que é o escândalo da religião, da Inglaterra e da natureza humana. A não ser que Deus o tenha verdadeiramente erguido a essa obra, o senhor será consumido pela oposição dos homens e dos demônios. Mas se Deus for pelo senhor, quem lhe será contra? São eles todos juntos mais fortes que Deus? Não se canse de fazer o bem. Continue, em nome de Deus, e com a força do seu poder, até que a escravidão americana, a mais vil que já houve sob o sol, se desvaneça diante desse poder.
Lendo esta manhã um tratado escrito por um homem africano, me impressionou muito a circunstância de o homem com a pele escura ser maltratado pelo homem branco e não ter o direito a reclamar justiça, uma vez que há uma lei em todas as nossas colônias afirmando que o juramento de um negro contra o de um branco de nada vale. Que vilania é essa!
Que Aquele que lhe tem guiado desde sua juventude continue fortalecendo-lhe nessa e em todas as coisas. Essa é a oração de seu afetuoso servidor, John Wesley”
Dezessete anos depois dessa carta, Wilberforce viu, não sem lutas e muitas derrotas, seu projeto de lei contra o tráfico de escravos ser aprovado. E somente 42 anos depois, em 1833, três dias antes de morrer, escutou a noticia que vinha do Parlamento acerca da aprovação de seu projeto de lei que abolia a escravidão.
Na luta prévia a essa vitória, anos antes, Wesley havia enviado outra carta a Samuel Hoare, líder metodista nos EUA, dizendo:
“São pequenos passos contra essa terrível abominação. (...) Sem dúvida, vocês terão oposição forte e violenta, pois os donos de escravos são um grupo numeroso, rico e, portanto, poderoso. E quando o negócio deles está em perigo, não estão vocês tocando na menina de seus olhos?”
Fico me perguntando como anda a nossa coragem para identificar e enfrentar os poderosos e suas meninas dos olhos de nosso tempo. Pode ser que esse filme não seja uma obra-prima*, ou mesmo que contenha suas incorreções históricas, mas espero que sirva a mim e a muitos outros como alerta e inspiração, assim como deve ter sido a carta do bom velhinho Wesley.
Foto: © Flora's profile
Upload feito originalmente por inconstanti
* Update: vi o filme, muito bom, e já o utilizamos em algumas discussões em grupo. Vale a pena!
Veja um clipe do filme “Amazing Grace”:
5 comentários:
Achei o filme muito bom.
Não sei se o filme é fiel a biografia de Wilberforce, mas pelo menos da pra saber muito mais da vida dele.
Não consta nada sobre Wesley no filme, mas John Newton é mostrado como um dos personagens que mais influenciou Wilberforce.
Vale a pena conferir.
Beleza, Thiago.
Vou procurar o filme por aqui. Paz e bênçãos pra você aí no Norte!
Um abraço apertado do Sul!
Amigo, vou postar este texto no Portal Cristianismo Criativo, pode ser? Abraço!
O filme linkado foi removido! Dê uma olhada quando puder!
Trailer atualizado e uma nota adicionada ao final, comentando que já vi o filme e o utilizamos algumas vezes em discussões em grupo. Bem interessante!
Abraços!
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