"O que faremos hoje, Ferb?" Os iniciados nesse divertido desenho animado saberão que essa frase costuma abrir muitos dos episódios de "Phineas e Ferb". Dois irmãos desenham engenhocas criativas, com a ignorância de seus pais e para o desespero de sua irmã, que sempre tenta, em vão, revelar suas façanhas. Claro, há o vilão de nome impronunciável e motivações obscuras, além do delicioso agente Perry, o ornitorrinco, que sempre salva o dia.
Mas como não estamos aqui para falar de mamíferos ovíparos, passemos a outro Phineas, dessa vez um personagem das Escrituras. Phineas e seu imão (que não se chamava Ferb...) eram os filhos do sacerdote Eli, aquele que se desempenhou como tutor do profeta Samuel. Não foram exatamente conhecidos por sua, digamos, retidão em sua função.
Phineas e Hofni eram os guardadores da Arca da aliança quando ocorreu o episódio(1) em que buscaram levar a Arca para o campo de batalha contra os filisteus. Como a Arca simbolizava a presença de Deus no meio do povo, interpretaram que essa seria um poderoso amuleto em sua agenda guerreira.
Não houve esforço para discernimento ou consulta a Deus sobre o tema, em uma demonstração mais de que imaginavam poder manipular a Deus para seus próprios fins. O resultado se mostrou dramático. A Arca foi sequestrada, Phineas e Hofni morreram e até mesmo a notícia de que a Arca havia sido tomada levou também à morte de seu velho pai Eli.
Outro dia saiu uma reportagem interessante no "The New York Times", sobre generais norte-americanos saturados do uso de apresentações de PowerPoint para tentar descifrar os caminhos para a guerra no Afeganistão.
Os slides eram tão complexos que um dos generais chegou a brincar dizendo que "o dia em que entendermos esse slide ganhamos a guerra". McMaster, outro general, disse que "alguns problemas do mundo não são bullet-izable". Essa última expressão, difícil de traduzir, traz um trocadilho interessante (seria consciente?) sobre a dificuldade em classificar simplisticamente uma situação através de pontos e gráficos em um PowerPoint, mas também revelando algo sobre a limitação de querer resolver algo através das "bullets" (balas), como se um poderio militar avassalador fosse a panacéia dos problemas do mundo.
McMaster também revela uma lucidez importante ao comentar porque PowerPoints tendem a tornar-nos estúpidos. "São perigosos porque criam a ilusão de entendimento e de controle". O ponto é que o mundo tem desafios mais complexos do que enfrentar um ou outro vilão como o Dr. Doonfenshmirtz (sim, o vilão de Phineas e Ferb).
A ilusão de controle foi a que também se apoderou de Phineas (o homônimo bíblico) e seu irmão Hofni. Pena que não dá nem para criticar tanto os dois irmãos, uma vez que nossa própria relação com Deus muitas vezes se dá no marco de querer controlar o que Deus fará na história. Ou de imaginar que podemos manipular esse poder e presença para nossos próprios interesses.
Recentemente eu fui provocado pelo capítulo sobre Submissão do excelente livro de Chris Heuertz, "Simple Spirituality". Discorrendo sobre transparência, vulnerabilidade e submissão, ele afirma:
"Submissão é uma oportunidade de afirmar nossa profunda confiança em Deus, permitindo que Deus esteja no controle enquanto resistimos à compulsão de querer colocar-nos no lugar de Deus."
Sejamos criativos ao buscar soluções. A engenhosidade dos meus personagens favoritos de desenhos animados é um estimulante. Mas não sejamos ingênuos para imaginar que encontraremos caminhos fáceis, e nem tenhamos a desfaçatez de querer empurrar a Deus dentro de nossos próprios projetos. Ah, e da próxima vez pensarei duas vezes antes de colocar um sermão no PowerPoint.
(1) 1 Samuel 4
5 comentários:
Olá!!!
Achei seus textos muito bons e irei visitá-lo com frequencia!!!
té mais!
Olá Facundo,
Gracias! Será um prazer receber suas visitas.
Forte abraço!
Muito bom, caro irmão!
Fiquei curioso em saber o que o autor citado fala sobre transparência e vulnerabilidade também. Escreva sobre isso!
Grande abraço!
Olá Ricardo,
Bom poder encontrá-lo...
Feliz por vê-los no "sul" da vontade do Pai celestial.
Grande abraço, Gilberto (de Ribeirão Preto), até o final do ano em Itapeva, sul de SP.
Oi Lissânder,
Estou devendo voltar a escrever e quem sabe o faço sobre esse tema da transparência e vulnerabilidade.
Olá Gilberto,
Bom ouvir de você. Sigamos em contato!
Abraços!
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